ACREDITAR

Um diário de alguém que descobriu recentemente que é seropositivo, mas vai acreditar até ao fim que o milagre vai acontecer. Se pelo caminho ajudar a uma só pessoa a evitar ser contaminado ou a suportar melhor o seu convívio com o HIV-SIDA, já vale a pena escrever um pouco da minha história de vida, compartilhar pensamentos, alegrias e sentimentos. Só tenho a certeza de que a esperança é a última a morrer.

terça-feira, 15 de maio de 2007


quarta-feira, 18 de abril de 2007

ISTO AINDA É REAL

Positive-AIDS-ProtectYourself-Lisa Germano-From a shell

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DE BEM COM A VIDA

Não sou uma pessoa de mal com a vida. É certo que ela podia ter sido mais generosa comigo. Não, não foi tão generosa assim, mas julgo que tem sido agradavelmente benévola. Não nasci rico, nem fiquei rico, entretanto. Não nasci genial nem me tornei um génio. Fui um aluno acima da média, penso eu, mas não fiquei doutor nem engenheiro, nem uma universidade frequentei. Comecei a trabalhar no tempo certo e pouco a pouco fiz da minha vida profissional um sucesso moderado. Não cheguei a director geral, mas sou pelo menos um quadro médio bem reputado numa das grandes empresas deste país e orgulho-me disso. Não ganho milhões, porém ganho o suficiente para levar uma vida confortável de classe média.
O relativo sucesso profissional atribuo-o ao empenho em tudo o que faço, ao amor à camisola e numa atitude que pôs sempre em primeiro lugar a empresa aos meus interesses pessoais. A estratégia mostrou-se correcta. Foi compensado com o reconhecimento das chefias e a atribuição de cada vez maiores responsabilidades na estrutura da empresa.
Outra razão para o meu relativo sucesso é ter sido sempre uma pessoa optimista. Faz parte da minha natureza acreditar que as coisas só podem melhorar, que as pessoas são basicamente bem intencionadas ( sem nunca descurar a retaguarda, porque algumas não são tanto assim), e que tudo é recompensado de acordo com o mérito de cada um. Parece um pouco ingénuo? Talvez, mas podem confiar que ajuda muito não ver maldade a cada esquina, só ver o lado mau da vida, pensar que está sempre alguém preparado para nos tramar e que só não tira vantagem do nosso esforço quem não pode.

Olhando bem para a minha vida podia confidenciar que não terei razões para ser um optimista nato. Nasci no seio de uma família cheia de dificuldades, com uma deficiência congénita que começou logo a diminuir as minhas probabilidades de vir a ser bem sucedido. A infância foi feliz, mas com o pai longe da família. A mãe, esforçadamente deu conta de nos criar aos três com grande esforço. A adolescência foi complicada, e quem não teve uma adolescência assim? A descoberta da homossexualidade latente tornou-me um jovem fechado, algo solitário, reservado. Aprendi a defender-me do mundo desenvolvendo uma atitude cautelosa e defensiva para não sofrer as agruras da intolerância.

Passada essa fase era hora de procurar o meu lugar no mundo. Não foi fácil para alguém tão tímido e reservado como eu afirmar-me no competitivo mundo do trabalho. Por todo o lado competia com gente bem falante, com «lata» para fazer dos defeitos virtudes, dos erros vantagens, das palavras competência. Eu não sabia usar as palavras como propaganda, eu não sabia «engraxar» para me promover. A minha única arma era a minha vontade e capacidade de fazer, nada mais. No primeiro emprego a guerra das palavras venceu, mas mais tarde venceu a entrega à causa, o empenho, o contribuir para o sucesso da empresa sem pensar em mim. E foi dessa forma que ganhei o meu lugar no mundo do trabalho. Não me arrependo do que dei sem pedir nada em troca, pois hoje sinto-me recompensado.
Depois a vida começou a correr certeira, discreta, favorável. Nunca tive tempo para amargar. Quando a vida não corria bem, não me tornei azedo por dentro. Sempre esperei que a tempestade passasse acreditando que tudo voltaria ao normal e tudo voltava ao normal.

Hoje poderia estar lamentando-me de ter pousado sobre a minha vida um «katrina» capaz de me arrancar pela raíz, de destruir toda a minha crença na bondade do destino, mas não, a minha vida quase não abanou. Podia ter entrado numa depressão suicida, podia ter me esvaído em lágrimas, podia ter lamentado amargamente a minha sorte, podia ter-me isolado e tornado azedo com os outros, podia ter desistido, podia querer vingança... Enfim, podia ter jogado a toalha ao chão e escoar um pessimismo legítimo pelo passar dos dias. Não.
Quem me conhece sabe que prefiro passar despercebido a ter 1 minuto de glória na capa dos jornais, prefiro a descrição à manifestação, pode até pensar que seria essa a minha atitude natural de me deixar vencer pela adversidade. Jamais. Sei que engano muita gente que não me atribui força ou forte vontade de conseguir o que quero, mas há em mim uma vontade interior quieta, serena e sólida que me faz acreditar que a minha sorte não acabou, que vale a pena viver e que tudo passará como passaram outras tempestades que se abateram sobre mim.

Lembram-se que no princípio recebi a notícia da minha infecção pelo HIV sem dramas, nem choradeiras inúteis. Eu pressenti o que estava para acontecer e preparei-me. Quando penso hoje nas últimas férias que tive, espanto-me com a capacidade de continuar a viver, a divertir-me, a aproveitar a vida esquecendo todas as nuvens que pairavam sobre a minha cabeça. Na realidade hoje penso que arrisquei de mais. Não o devia ter feito, mas como no fundo não tinha certezas e se o mal tivesse feito já tinha sido feito ao longo dos últimos meses. arrisquei. Falo do risco de contaminar o meu companheiro, mas tínhamos tido dezenas de relações sexuais nos últimos meses, mais uma não ia fazer diferença. Hoje arrependo-me dessa última vez sem precaução. felizmente não teve consequências. Fui egoísta, mas não foi só por mim. Se lhe dissesse o que magicava em segredo a minha cabeça, o melhor que poderia acontecer era estragar totalmente as nossas férias e já que o barco estava em andamento tinha que chegar ao porto.

Nas primeiras análises que fiz tinha uma carga viral de 53.900 (27-11-06) depois subiu rapidamente para 65.500 (28-12-06) e agora desceu abruptamente para 12.100 (26-03-07).
Os níveis de CD4 estavam em 497, depois caíram para 377 e as mais recentes apresentam o melhor nível dos três: 557 respectivamente. O que causou esta evolução? Não sei! O infecciologista perguntou, qual sapateiro, se eu estava a tomar algum medicamento. - Não. - Bem, mas isto está bem melhor! Ele não sabe, mas eu penso que a Sífilis estava a acelerar a progressão da infecção do HIV. Agora que esse pesadelo passou, as defesas voltaram ao contra-ataque e tudo recuperou surpreendentemente.

Tenho uma firme esperança que nem tão cedo vou necessitar de retrovirais. E acredito que a medicina vai avançar e encontrar soluções inesperadas para debelar esta pandemia.
Este é o meu optimismo. Este é o melhor de mim que me permite manter um sorriso sincero nos lábios e brindar à vida como sempre fiz.

Vocês cuidem-se, que esta conversa pode ser apenas optimismo meu, nada mais. Os preservativos são baratos usem-nos sempre.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

TENHO ANDADO POR AÍ

Faz tempo que não dispenso algum do meu tempo para actualizar este espaço. Não é por falta de tempo, é mesmo por falta de vontade. Passada a crise provocada pela Sífilis, que a incompetência do meu infecciologista deixou prolongar por se ter esquecido de pedir a despistagem desta doença nas primeiras análises que me mandou fazer, a minha vida retomou o curso semelhante à de qualquer cidadão que desconhece ser seropositivo. Não que eu não tenha consciência disso e que me esqueça de agir como tal, apenas faço uma vida que não tem espaço para se martirizar com o problema. Sempre tive uma atitude optimista perante a vida e os problemas sempre os encarei como factos passageiros que contribuem para o meu amadurecimento como pessoa, e nunca como uma fatalidade ou uma maldade dos deuses para me castigarem. Este problema que agora enfrento é apenas mais um, talvez o mais grave de todos os que tive de ultrapassar até agora, mas não o encaro como o derradeiro, nem como o fatal. O povo diz que «O que não tem solução solucionado está», mas até que a realidade me prove o contrário acredito que este tem solução e resolvido ficará.
Tenho consciência que dias mais difíceis virão. Não sei como os irei encarar. Neste momento a determinação é de os receber com o mesmo optimismo e esperança com que tenho encarado a vida.
Não sou daquelas pessoas que fazem da vida uma festa ou uma tragédia conforme os acontecimentos se sucedem. Não vivo da busca de emoções fortes que transformam a vida num carrocel em que a euforia sucede à depressão, em que a gargalhada alterna com as lágrimas, em que ou sou desmesuradamente feliz ou tragicamente infeliz como se tudo na vida fosse um excesso para o bem ou para o mal.
A minha vida tem sido uma serena caminhada por entre as pedras do caminho, sem euforias é certo, mas uma jornada muito agradável de que não me arrependo ou envergonho de ter vivido, com tropeções e quedas como acontece a todos os mortais, mas nunca soçobrei de joelhos perante as dificuldades, antes olhei em frente e procurei seguir o caminho, aprendendo e resistindo e é assim que pretendo continuar até que a derradeira queda aconteça e já não reúna forças para a reiniciar. Até lá vou continuar a ser como até aqui sereno e persistente, aproveitando a maravilha que é viver, caminhando consciente que o último passo será dado um dia como o qualquer outro simples mortal.

PERVERSÃO É NÃO USAR CONDOM


segunda-feira, 12 de março de 2007

COM O PASSAR DO TEMPO

Tenho saudades do tempo em que os dias, os meses os anos passavam tão lentamente que eu julgava que nunca mais teria idade para ir de férias sozinho. Consegui convencer minha mãe a viajar com um amigo de escola para a Galiza tinha 16 anos. Ainda hoje recordo os saltos que dei sobre a cama para festejar a autorização. Fiquei eufórico durante uma semana, pelo menos. Eu e o João, com mochila às costas e o Cartão das Pousadas da Juventude na carteira fomo de comboio até Braga e depois até Vigo foi uma excitação.
Lembrei disto a propósito de já terem passado 5 meses desde que soube que era seropositivo. Faz tempo que deixei de acordar e ter como primeiro pensamento a minha condição de infectado pelo HIV. Hoje quase não penso nisso. Sem sintomas até parece que tudo não passou de um sonho mau.

domingo, 11 de março de 2007

PASSO A PASSO


Cientistas da Universidade de Vrije na Holanda descubriram que a langerina, uma proteina que é segregada pelas células epiteliais Langerhans, evita a transmisión do VIH ao capturar o virus e elimina-lo.
Este estudo sugere que a langerina é uma barreira natural contra a infeccão, pelo que os métodos para combater a doença deverão incentivar a criação desta proteina,ou pelo menos preserva-la e não interferir con ela.
O artigo completo deste estudo será publicado na revista Nature Medicine.
Mais informacão em AZ prensa

domingo, 25 de fevereiro de 2007

PALAVRAS PARA...


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

DE CABEÇA PERDIDA










Não percas a cabeça. Faz sexo seguro.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

METE ISTO NA TUA CABEÇA

.


O ACREDITAR ESTÁ DE VOLTA

O ACREDITAR sofreu uma verdadeira operação de trasladação. Não morreu, não.
Peço desculpa pelo acontecido, mas foi a solução que encontrei para manter a minha identidade secreta. Não que julgue que o melhor para parar a epidemia seja manter os seropositivo apenas como números que se divulgam e não gente de carne e osso que vive, contacta e pertence à população, ao grupo de amigos, de colegas de trabalho, à família, mas o risco de passar a ser encarado e tratado não como uma pessoa, mas como um portador da «peste» ainda é um risco.

Devido à mudança operada pelo alojador deste blog deixei de ficar escondido atrás do nick Positivo e passei a assumir o nick porque sou conhecido na blogosfera. O meu outro blog é visitado por amigos e conhecidos, familiares e colegas de trabalho o que muito rapidamente os conduziria ao ACREDITAR. Pessoalmente tal ocorrência não me traria nada de bom. Receio poder vir a ter problemas no trabalho. Não quero que os meus amigos me passem a olhar com compaixão ou perceber que alguns não são tão amigos como penso que são e sobretudo não seria bom para a minha mãe vir a saber que sou seropositivo. Já tem problemas que bastem com a sua saúde para enfrentar mais uma situação que a iria fazer sofrer ainda mais e não me ajudar nada.

Enquanto achar conveniente pretendo manter esta situação de forma a não me prejudicar nem acrescentar sofrimento a quem não pode fazer nada para me ajudar.

Deu trabalho, mas está concluído e com o mesmo objectivo inicial: alertar os meus leitores para o risco de contraírem o HIV se não tiverem todo o cuidado possível.

Até já!

sábado, 10 de fevereiro de 2007

BOAS NOVAS

Surpreendentemente ou talvez não as análises ao HIV e à sífilis do meu amigo revelaram-se negativas. Em relação à sífilis era esperado porque regularmente as crises de amigdalite obrigaram-no a tomar antibióticos injectáveis, o que matou a bactéria desde início. Em relação à SIDA não estávamos verdadeiramente à espera que esse fosse o resultado. Eu confesso que sempre tive uma vaga esperança que as notícias fossem as que vieram a ser.
Foi um sentimento estranho. Ficamos ambos felizes, mas ao mesmo tempo com uma sensação estranha. Este facto só veio realçar o meu «azar» se é que lhe posso chamar assim. Andamos os dois pelos mesmos lugares, compartilhamos os mesmos parceiros sexuais, nunca descoramos o preservativo e um foi contaminado pelo HIV e o outro não. Já vos expliquei num post anterior a razão que me levou a ser contaminado. O facto agora revelado só vem provar que estava correcta a minha teoria.
Isto prova mais uma vez que o HIV não se transmite tão facilmente como o vírus da gripe, por exemplo. Depois de eu ter sido contaminado, o que deve ter acontecido em Novembro de 2005, tivemos relações sexuais muitas vezes e ele não foi infectado.
Se pensarem nisto podem verificar como o preservativo é eficiente na prevenção da sida. O virus não se transmite facilmente, pelo que se tivermos cuidado suficiente garantimos quase a 100% a nossa saúde.
Eu fui um verdadeiro azarado.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

COMO SABES?

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

ELE FEZ AS ANÁLISES

Regressei para vos contar que depois de se preparar psicologicamente o meu companheiro foi hoje fazer as devidas análises. Tenho uma vaga esperança de que o resultado venha a ser negativo. Seria óptimo. Ele está convencido que não, mas eu estou medianamente optimista. Lá para o fim da semana saberemos os resultados.
Eu estou bem. A questão da sífilis parece ultrapassada, embora ainda não tenha os resultados da punção lombar. As marcas que me deixou na pele já desapareceram na sua maior parte ou estão a extinguir-se muito lentamente.
Não dá para acreditar, mas o laboratório esqueceu-se de fazer as devidas análises. Fiquei fulo. Cambada de desleixados incompetentes!
Como já vos disse as últimas análises revelaram que a carga viral aumentou ligeiramente e as defesas baixaram mais rapidamente do que desejava. O nível de CD4 já chegou aos 377! Se continuar a baixar a esta velocidade após a próxima análise tenho de iniciar o tratamento.
Entretanto a minha vida sexual quase estagnou. Desde Novembro tive meia dezena de relações sexuais. Podia ser pior. Voltei ao processo manual que me dá agora um duplo prazer: enquanto sinto o gozo do orgasmo e vingo-me matando alguns milhões de criaturas microscópicas que tudo fazem para acabar com a minha vida.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

COMO SABES?

domingo, 28 de janeiro de 2007

COMBATER A SÍFILIS


PortugalGay 27.12.06

Histórias em quadrinhos e outdoors com personagens de cartoon baseados na genitália masculina estimularam a realização de exames para despistagem da doença.

Uma campanha publicitária protagonizada por personagens de histórias em quadrinhos com o formato da genitália masculina encorajou mais homens a fazer exames de sífilis na cidade de San Francisco, de acordo com um novo estudo.

Nos bairros onde os anúncios do Pénis Saudável foram apresentados em outdoors e paragens de autocarro, os homens que viram a banda desenhada tiveram maior probabilidade de fazerem testes para detectar a doença, que é sexualmente transmissível, de acordo com a pesquisa conduzida pelo Departamento de Saúde Pública do município.

O departamento patrocinou os anúncios - humorísticos e politicamente arriscados - entre 2002 e 2005, para combater o aumento dos índices de sífilis entre homens homossexuais e bissexuais.

Embora a campanha tenha sido controversa - uma empresa de outdoors inicialmente recusou-se a exibir os cartazes - as taxas de infecção foram reduzidas.

Veja o site da campanha Healthy penis 2006.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

COMO SABES?

domingo, 21 de janeiro de 2007

DE VOLTA À ROTINA

Há quase uma semana que não dou notícias. Depois de ter faltado alguns dias ao trabalho para me recuperar das enormes dores de cabeça que me surpreenderam nos dias que se seguiram à punção lombar. Depois de ter reagido muito bem no dia do exame e no dia seguinte, as enormes cefaleias que me atormentaram nos dias seguintes impediram que continuasse o meu dia a dia habitual. Tornou-se impossível conduzir ou sentar-me a uma secretária; as únicas posições confortáveis eram deitado ou em pé por estranho que vos pareça.
Desde terça-feira que voltei à rotina habitual, e como sabe bem estar de volta!

Os vestígios das mazelas que me atormentaram nos últimos meses estão de saída. Para falar verdade sinto-me tão bem como antes deste enorme susto. A falta de um diagnóstico correcto sobre a causa dos problemas de pele que me apoquentaram convenceram-me que eram manifestações da debilitação do meu sistema imunitário provocado pelo HIV. Felizmente ainda não. Sinto-me como se nada estivesse a acontecer. Infelizmente não é verdade. O HIV continuar a minar o meu sistema de defesa contra todo o tipo de doenças infecto-contagiosas.

sábado, 20 de janeiro de 2007

VIVER COM O HIV



domingo, 14 de janeiro de 2007

DEPOIS É QUE VEIO O PIOR

Estava feliz porque tudo tinha sido menos doloroso do que esperava. A enfermeira que me tirou o soro, quando lhe contei das minhas expectativas depois do episódio do Dr. House disse que nestes casos mais vale não saber. É verdade, só o nome já assusta, quanto mais ver as imagens exageradas da televisão.
No dia seguinte sentia-me bem e fui trabalhar. Pela tarde comecei a sentir dor de cabeça. Saí um pouco mais cedo, mas o pior estava para vir. Na condução para casa tive dificuldade em cá chegar. A dor na coluna, na base do crânio e na cabeça quase não me permitem aguentar a viagem. Dormi e acordei bem, mas logo que me sentei ao volante do carro a dor voltou. Só me sentia bem deitado ou em pé. Conduzir era uma tortura, sentado à secretária um sacrifício. Desisti. Só Terça-feira volto ao trabalho, embora hoje já me sinta melhor.
O médico ficou de me telefonar se os resultados fossem positivos. Até agora não o fez. Tomei a primeira dose de cavalo de penicilina, que doeu mais que qualquer punção lombar, e os resultados já estão à vista. Os problemas de pele estão a passar à história. Finalmente, depois de meses a olhá-los todos os dias sem sinais de recuo.
Terça-feira repito a dose e ainda fica a faltar uma. No dia 29 voltamos ao médico para ver como estão os níveis de CD4 e reavaliar a situação. Para já este pesadelo está a passar.

O corpo cobra um elevado preço dos excessos praticados. Vale a pena pensar nisto.

sábado, 13 de janeiro de 2007

NA CAMA 60

Finalmente sinto-me em condições de escrever um pouco. Os últimos dias têm sido difíceis. Não tenho ido trabalhar pois tenho dificuldade em conduzir e mesmo estar sentado é um sacrifício. Só me sinto bem deitado ou em pé.
Fui fazer a punção lombar na Terça-feira algo receoso. Tinha visto poucos dias antes na série Dr. House fazerem uma e fiquei com a sensação de que era como cravar uma agulha nas costas, tal foi a imagem que passaram de dor sofrida pelo paciente. Quando soube que, no dia seguinte, tinha de sofrer o mesmo fiquei algo assustado. mas tinha de ser e lá fui eu conforme recomendação do médico ter com ele às urgências. Na Quarta-feira as urgências do Hospital de Faro estavam piores do que nunca; havia doentes por todo o lado, deitados em macas de tal forma que não as havia disponíveis para novas chegadas. O médico tinha-me dito que não havia camas vagas que o mais provável era ter de ficar as 6 horas após o exame numa maca. para minha surpresa, pediu-me para aguardar um pouco que me ia encaminhar para o 8º piso, onde havia uma cama à minha espera e o especialista para fazer a punção.
Enquanto aguardei, talvez uns 10 minutos observei bem o que é a luta daqueles profissionais para salvar vidas e cuidar de todos com o profissionalismo e o carinho necessário. Nunca parece haver médicos e enfermeiros disponíveis para todos. Senti que o problema do nosso sistema de saúde é o acesso, depois de se estar lá dentro temos os melhores e mais empenhados profissionais de saúde do mundo. Tivessem eles condições para cuidar de todos e não nos teríamos de queixar todos os dias do serviço de saúde que temos: caro e ineficiente, mas não por culpa de quem lá trabalha, talvez por culpa de quem gere, não sei!
Foi o próprio Dr. Ferreira que me levou ao 8º piso, não havia ninguém disponível para o fazer. Ia ficar na unidade de AVC´s. N a enfermaria estavam seis doentes que haviam sofrido um AVC nos últimos dias. Alguns recuperados, outros mais perto da morte que da vida.
com todo o profissionalismo e atenção a enfermeira tomou as primeiras providências e logo depois veio o médico que ia fazer aquela maldade. Explicou-me tudo o que ia acontecer, como devia proceder, e o que se seguiria. Um espectáculo! Fiquei convencido que quem ali estava sabia o que fazia. Continuava assustado, no entanto. Não iam dar anestesia porque a dor que sentiria não passaria de uma picada semelhante a uma injecção. Duvidei, mas não disse nada. Não tinham passado 15 minutos desde a minha chegada à cama 60 e ali estava ele a dizer para eu me enrolar todo, virando-lhe as costas, descontraído, com a coluna muito direita para a agulha encontrar o caminho à primeira, não ia custar nada?
Para meu contentamento assim foi, senti a picada na pele e mais nada. Doeu menos que uma injecção intra-muscular. Alguns segundos depois ouvi a sua voz dizendo que já estava. Eu estava óptimo. Aliviado, deitei-me de bruços como devia ficar na primeira meia hora e só depois me podia virar para cima. Fiquei surpreendido, pois as minhas espectativas foram superadas, não tinha custado nada, passado horas não me doía a cabeça.
Fiquei as 6 horas seguintes a observar os doentes e os profissionais que ali me mostravam mais uma vez que nos nossos hospitais trabalham excelentes profissionais que sabem o que fazem e fazem-no com respeito e compaixão pelos pacientes.
Eram quase 7 da tarde quando tive alta. Lá deixei o Sr. Joaquim a convidar as moças para ir embora e a perguntar onde estavam as suas botas, o Sr. Manuel estava em estado crítico e já tinha sido transferido para o S.O. Quando disse à enfermeira que estava pronto para sair já a cama 59 e 60 estavam a ser preparadas para receber 2 novos hóspedes que aguardavam em macas à porta da enfermaria.
Pelo menos saí de lá com uma boa opinião sobre o que se passa dentro daquele hospital. Não vi desleixo, nem indiferença, ignorância nem imprudência.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

COMO SABES?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

FICA PARA AMANHÃ

Hoje era dia de descrever o meu dia de ontem no hospital de Faro. Até nem correu nada mal, mas não estou em condições de teclar um texto em condições para contar o que aconteceu. Doi-me um pouco a cabeça e o corpo de um modo geral pelo que vou deixar para amanhã.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

MAIS UMA CONSULTA

Quero manter o meu optimismo habitual, mas há dias em que nada parece ajudar. Certamente já atribuiram ao estado do tempo uma letargia negativa que por vezes se instala em nós e parece não haver nada que a mude. Hoje estou assim e não tenho a desculpa do tempo, pois lá fora esteve um dia lindo.
O meu alemão não deixou passar uma semana e já telefonou para saber se tudo estava bem. Sei que ele está genuinamente preocupado comigo. A notícia na véspera de ano novo apanhou-o de surpresa. Passados doze anos ainda sente a falta dos meus telefonemas.
Finalmente tive hoje a prova de que os danos que tenho na pele são causa de sífilis secundária. O que não esperava é que a situação se complicasse. O médico diz que não basta tomar umas doses de penicilina e pronto. Vou ter que fazer amanhã uma punção lombar para diagnosticar se a bactéria já está no cérebro! Espero que não, pois em caso de resultado positivo o médico diz que o tratamento implica 21 dias de internamento. Brincadeira! Com excepção dos problemas causados pela sífilis não tenho outros problemas.
Tenho engordado nos últimos meses. Deixei de me preocupar com a elegância e já lá vão mais de 3 quilos! A quantidade de HIV no sangue aumentou para 65.500. Vamos aguardar o niveis de CD4 (só hoje foi possível fazer a análise devido ao facto de nas duas últimas segunda-feira ter sido feriado e no Hospital de Faro estas análises só se fazem neste dia da semana) e decidir se vamos iniciar a terapia.
Sei que ainda é cedo, mas já começo a ficar cansado de hospitais!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

COMO SABES?

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

UM BOM ANO AO MEU EX

Fazia vários meses que não telefonava ao meu ex, aquele alemão que vos falei algures. Não lhe liguei a desejar feliz Natal, mas não podia fazer o mesmo ao entrar o novo ano. Ele não ia deixar. Ligava-me quase de certeza. Liguei antes de sair para jantar no dia 31. Não tinha tido coragem de falar com ele desde Outubro. Se lhe telefonasse tinha de lhe dizer a verdade e não sabia como fazê-lo a alguém que me aconselhou tanto sobre os riscos de contrair SIDA. Foi ao seu lado que cumprimentei os primeiros doentes com o Sindroma de imunodeficiência que conheci. Estavamos no final da década de oitenta e eram todos condenados à morte como veio a acontecer.
O meu alemão é um alemão típico: ponderado, cheio de regras, cumpridor de rotinas e de horários e um coração fantástico. Nele eu tinha um amante e um amigo. O amigo ainda persiste, mas não sei como conseguimos viver tanto tempo juntos. A verdade é que o seu modo de vida germânico influenciou-me imenso e deu-me outra visão sobre o mundo. Se tive algum sucesso na minha vida profissional em parte deve-o a ele que me ensinou como devia ser a minha postura perante o emprego, o trabalho, a chefia, a empresa e o país.
Quando lhe disse que era seropositivo senti a incredulidade do outro lado que o fez voltar a fazer a pergunta se eu estava bem. Não foi fácil compartilhar com ele este segredo que exceptuando vocês ,só eles os dois sabem: o actual e o ex. Não foi a melhor forma de começar o ano para ele.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

COMO SABES?

domingo, 31 de dezembro de 2006

PRONTO PARA ENFRENTAR O NOVO ANO

Chega ao fim um ano que não ficaria para a história não fosse ter suspeitado que nem tudo estava bem com a minha saúde quando em Novembro regressei de férias. O ano de 2006 seria apenas um ano de continuidade, sem história, nem grandes histórias para contar. Chego ao fim destes 365 dias tentando perceber o que vai mudar nos próximos 365. Para já as rotinas foram um pouco quebradas, não muito, que não há razões para tal. Talvez estejamos, e digo estejamos porque somos os dois que estamos a avaliar para onde vai a embarcação, a procurar um estilo de vida mais sereno e com novos propósitos. O ano que chega será enfrentado com outra sabedoria de forma a aproveitar melhor cada momento, cada iniciativa, cada dia.

Amanhã vamos jantar os dois num restaurante da cidade e convidamos alguns amigos e familiares para se juntarem a nós. Nada das loucuras dos anos anteriores em Albufeira e Portimão na rua até de madrugada cheios de álcool. Depois do jantar, a festa segue, pela noite fora, num bar com o resto da canzuada até que o corpo reclame pelos lençóis.

Tenho esperança que o ano novo não me traga más notícias e que seja possível continuar a vida quase normal como até aqui. Temos muitos projectos em mente. Será que é este ano que finalmente vamos a Paris e à Euro Disney com o puto? Vou-me esforçar um pouco mais por apressar a amortização da minha casa. Já falta pouco. No trabalho o ano é de continuidade, não devem acontecer alterações, mesmo com os novos accionistas. A família é sempre uma incógnita. Os anos não perdoam e a qualquer momento...

Vou-me esforçar para que um dia possa pronunciar a célebre frase de Pablo Neruda: «Confesso que vivi!». Hoje poderia afirmá-lo, na hora H espero sentir o mesmo: que vivi!

Um feliz ano para todos e obrigado por passarem por aqui.

Se estas páginas poderem ajudar a evitar uma infecção por HIV, que seja, já cumpriram o meu objectivo.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

COMO SABES?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

INTERVALO NAS FESTAS

O Natal passou quase como todos os anos. A família reuniu-se, jantou, conversou, trocou prendas. É um ritual nada desprezível. Os laços familiares ficam um pouco mais apertados sempre que os seus membros se reúnem e celebram aquilo que os une: os laços de sangue, o amor fraterno e uma história de vida entrelaçada por muitos acontecimentos. Vale a pena celebrar o Natal com todos os que o fazem voluntariamente não por obrigação.
O Natal já lá vai. Falemos de coisas com menos luzes e glamour. Voltei ao hospital e tive pelo menos uma boa notícia: o meu problema de pele não é Kaposi. Todos tinhamos dúvidas que fosse e agora parece confirmado, mas também não é uma infecção por fungos. É síflis secundária! Ups! Do mal ao menos sempre tem um tratamento menos complicado. Kaposi podia tornar-se um problema grave; a síflis também, mas agora que vai ser tratada deixará de ser com algumas injecções de penicilina.
Amanhã mesmo vou repetir as análises para ver como está a evolução da doença: carga viral e CD4 entre outras. Fiquei aliviado com este diagnóstico. O infecciologista nunca achou aceitável que o Sindroma de Kaposi se desenvolvesse tendo eu 497 de CD4 e tinha razão. Infelizmente foi quase necessário uma junta médica para chegarem a essa conclusão, pois ele esqueceu-se de fazer essa análise no lote de análises que fiz no final de Novembro.
A próxima consulta foi antecipada para 8 de Janeiro. Vamos ver como evoluem os níveis de carga viral e das defesas. A decisão sobre o início da terapêutica depende disso. O médico diz que tendo em conta a toxicidade não ganhamos nada em começar a ingerir comprimidos antes do momento certo. Nem todos os doentes respondem com a mesma tolerância aos medicamentos e como é impossível saber como vou reagir o melhor é não nos precipitarmos, com o nível actual de defesas ainda não surgem infecções oportunistas.
Ok. Vamos celebrar a passagem do ano e depois esperamos por boas notícias. Vai ser assim ao longo do ano que se apróxima - esperar por boas notícias!

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