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Um diário de alguém que descobriu recentemente que é seropositivo, mas vai acreditar até ao fim que o milagre vai acontecer. Se pelo caminho ajudar a uma só pessoa a evitar ser contaminado ou a suportar melhor o seu convívio com o HIV-SIDA, já vale a pena escrever um pouco da minha história de vida, compartilhar pensamentos, alegrias e sentimentos. Só tenho a certeza de que a esperança é a última a morrer.

sábado, 13 de janeiro de 2007

NA CAMA 60

Finalmente sinto-me em condições de escrever um pouco. Os últimos dias têm sido difíceis. Não tenho ido trabalhar pois tenho dificuldade em conduzir e mesmo estar sentado é um sacrifício. Só me sinto bem deitado ou em pé.
Fui fazer a punção lombar na Terça-feira algo receoso. Tinha visto poucos dias antes na série Dr. House fazerem uma e fiquei com a sensação de que era como cravar uma agulha nas costas, tal foi a imagem que passaram de dor sofrida pelo paciente. Quando soube que, no dia seguinte, tinha de sofrer o mesmo fiquei algo assustado. mas tinha de ser e lá fui eu conforme recomendação do médico ter com ele às urgências. Na Quarta-feira as urgências do Hospital de Faro estavam piores do que nunca; havia doentes por todo o lado, deitados em macas de tal forma que não as havia disponíveis para novas chegadas. O médico tinha-me dito que não havia camas vagas que o mais provável era ter de ficar as 6 horas após o exame numa maca. para minha surpresa, pediu-me para aguardar um pouco que me ia encaminhar para o 8º piso, onde havia uma cama à minha espera e o especialista para fazer a punção.
Enquanto aguardei, talvez uns 10 minutos observei bem o que é a luta daqueles profissionais para salvar vidas e cuidar de todos com o profissionalismo e o carinho necessário. Nunca parece haver médicos e enfermeiros disponíveis para todos. Senti que o problema do nosso sistema de saúde é o acesso, depois de se estar lá dentro temos os melhores e mais empenhados profissionais de saúde do mundo. Tivessem eles condições para cuidar de todos e não nos teríamos de queixar todos os dias do serviço de saúde que temos: caro e ineficiente, mas não por culpa de quem lá trabalha, talvez por culpa de quem gere, não sei!
Foi o próprio Dr. Ferreira que me levou ao 8º piso, não havia ninguém disponível para o fazer. Ia ficar na unidade de AVC´s. N a enfermaria estavam seis doentes que haviam sofrido um AVC nos últimos dias. Alguns recuperados, outros mais perto da morte que da vida.
com todo o profissionalismo e atenção a enfermeira tomou as primeiras providências e logo depois veio o médico que ia fazer aquela maldade. Explicou-me tudo o que ia acontecer, como devia proceder, e o que se seguiria. Um espectáculo! Fiquei convencido que quem ali estava sabia o que fazia. Continuava assustado, no entanto. Não iam dar anestesia porque a dor que sentiria não passaria de uma picada semelhante a uma injecção. Duvidei, mas não disse nada. Não tinham passado 15 minutos desde a minha chegada à cama 60 e ali estava ele a dizer para eu me enrolar todo, virando-lhe as costas, descontraído, com a coluna muito direita para a agulha encontrar o caminho à primeira, não ia custar nada?
Para meu contentamento assim foi, senti a picada na pele e mais nada. Doeu menos que uma injecção intra-muscular. Alguns segundos depois ouvi a sua voz dizendo que já estava. Eu estava óptimo. Aliviado, deitei-me de bruços como devia ficar na primeira meia hora e só depois me podia virar para cima. Fiquei surpreendido, pois as minhas espectativas foram superadas, não tinha custado nada, passado horas não me doía a cabeça.
Fiquei as 6 horas seguintes a observar os doentes e os profissionais que ali me mostravam mais uma vez que nos nossos hospitais trabalham excelentes profissionais que sabem o que fazem e fazem-no com respeito e compaixão pelos pacientes.
Eram quase 7 da tarde quando tive alta. Lá deixei o Sr. Joaquim a convidar as moças para ir embora e a perguntar onde estavam as suas botas, o Sr. Manuel estava em estado crítico e já tinha sido transferido para o S.O. Quando disse à enfermeira que estava pronto para sair já a cama 59 e 60 estavam a ser preparadas para receber 2 novos hóspedes que aguardavam em macas à porta da enfermaria.
Pelo menos saí de lá com uma boa opinião sobre o que se passa dentro daquele hospital. Não vi desleixo, nem indiferença, ignorância nem imprudência.

1 Comentários:

Blogger Serpositivo disse...

Anônimo disse...
A Unica impridencia a meu ver é ter combinado com o médico nas urgências.O seu estado não é para estar à espera numa sala de urgências onde está mais exposto a contagios de doenças que para outras pessoas são normais, mas que para uma pessoa com imuno deficiencia podem ser complicadas.Somente este aspecto eu encontro no seu relato.

Claro que o pós-analise lhe trouxe o mau estar, o que nem sempre pode ocorrer mas no seu aso não hoouve complicações de maior.Só o resultado das análises o poderão informar melhor.Peça sempre as explicações ao médico...é um direito seu assim como por exemplo o acesso às suas análises fotocopias das mesmas inclusivé).

Não é necessário entrar em conflito com seja quer que for...mas também deve mostrar e exigir diplomaticamente os seus direitos como paciente.

Um abraço
De um seu amigo

2:14 AM


João Baptista disse...
Tambem senti o mesmo quando fui operado no Garcia da Orta, nunca terei palavras de agradecimento suficientes para os médicos e enfermeiras que me trataram

10:13 AM

17 de fevereiro de 2007 às 23:58  

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