ACREDITAR

Um diário de alguém que descobriu recentemente que é seropositivo, mas vai acreditar até ao fim que o milagre vai acontecer. Se pelo caminho ajudar a uma só pessoa a evitar ser contaminado ou a suportar melhor o seu convívio com o HIV-SIDA, já vale a pena escrever um pouco da minha história de vida, compartilhar pensamentos, alegrias e sentimentos. Só tenho a certeza de que a esperança é a última a morrer.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

CARAS CONHECIDAS

Na sala de espera da consulta de infecciologia vi caras conhecidas. gays que provavelmente estavam lá pela mesma razão que eu. O Algarve é a região do país onde se verificou o maior aumento de novos casos de SIDA no último ano!

terça-feira, 21 de novembro de 2006

A PRIMEIRA CONSULTA

Fiz a primeira visita à consulta externa de infecciologia do Hospital de Faro. O médico é o mesmo básico que trata da minha mãe quando as suas plaquetas baixam a níveis críticos. Não gosto dele. Pensa que os doente são uns ignorantes que não merecem sequer saber do que padecem e quais as consequências. Depois de medida a tensão arterial, pesado e feitas algumas perguntas básicas sobre o meu estado geral, se tinha diarreia, se tinha febres, se sentia algum tipo de mal estar lá fui à consulta propriamente dita. Ao interrogatório da enfermeira todas as respostas foram negativas. Apenas as manchas nas mãos não são normais.
Fui mostrar o resultado das análises ao médico e o papel tinha desaparecido. Não faço ideia onde ficou, provavelmente o médico de família ficou com ele e nem me apercebi. Estava ligeiramente nervoso. O estúpido queria perguntar-me como suspeitava ter sido infectado, mas parecia que fazia a pergunta pela primeira vez a alguém. Tentou justificar a razão da pergunta até que eu o interrompi e disse: foi por via sexual de certeza. Sou homossexual.
Voltou a fazer as perguntas que já haviam sido feitas. mandou-me tirar a camisa. Auscultou-me o peito. Depois disse solene: já que não temos as análises vamos ter que começar tudo de novo: despiste, carga viral, células CD4 e CD8, hepatite B e C, e outras que nem lembro e uma radiografia aos pulmões.
Há um facto que vem piorar tudo: eu tive Hepatite B há uns 20 anos . Receio que o meu fígado não aguente o cocktail de comprimidos que cedo ou tarde vou ter que tomar!

sábado, 18 de novembro de 2006

CORRER RISCOS

Sempre tive por princípio não abdicar do preservativo nas relações sexuais. A excepção acontecia com o meu amigo. Aí abdicavamos da camisinha. Ele, estou certo, fazia o mesmo. Aliás, era suposto não haver traição. Há boa maneira gay e passados 9 anos de relacionamento, regularmente encontravamos um terceiro elemento para tornar o jogo mais aliciante. Lamentavelmente o jogo mostrou-se de risco e perigoso. Ambos sabiamos que ele existia em alguma percentagem, mas era um risco minimo, pensavamos nós. De quando em quando a minha pele pouco elástica fazia pequenas fissuras no pénis e no anús. Apesar do preservativo; penso que foi por aí que fui contaminado.
Eu sabia o risco que corria. Não há culpados, apenas eu sou culpado de ter corrido o risco conscientemente.
Nunca aceitei ser refém do medo. Viver a meio gaz não era satisfatório. Ser um menino bem comportado? Não. Desfrutaria da vida a plenos pulmões enquanto me fosse possível juntamente com o meu companheiro. Talvez por estar tão consciente da vida que quis viver encaro ser seropositivo com uma tranquilidade que me espanta. Já o meu homem não estava preparado para tal!...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

OS PRIMEIROS SINAIS DE ALARME

Comecei a suspeitar que a minha saúde não estava a 100% pouco antes de ir de férias em Outubro. Desde Maio que um fungo tinha contaminado uma pequena lesão que fiz no canto do lábio. A princípio não prestei atenção, mais cedo ou mais tarde curava. Levou tempo de mais e com a ajuda de um creme cicatrizante. Para espanto meu no dia 18 de Agosto a lesão provocada pelo fungo estava de volta. Não quis acreditar! Fui ao SAP e lá comecei a cuidar da lesão com Daktarin gel. durou até meio de Setembro. Por esta altura já me assaltava a ideia de que o meu sistema imunitário não estava a reagir bem...
Estavamos nós a gozar dos prazeres do sol, da praia e da noite quando pouco a pouco a infecção pelo fungo regressou mais poderosa do que nunca. Algum tempo antes tinham surgido nas palmas das minhas mãos e na planta dos pés umas manchas avermelhadas que davam comichão e a pele afectada ficou dura. Não era nada de bom o que estava a acontecer. Fui ao médico e comecei a fazer tratamento intenso. Isto estancou o alastramento do fungo, mas não o eliminou. Até hoje ainda não o consegui anular. Algo estava muito errado. Normalmente o meu sistema imunitário devia agir e combater o fungo, porém nada acontecia.
Nunca desejei tanto que um período de férias chegasse ao fim. Estava ansioso por regressar a Portugal. Queria parar para tomar medidas drásticas. Ir ao dermatologista, ao «otorrino» e fazer análises de despistagem do HIV-SIDA.Estava certo que a minha vida ia mudar drasticamente logo que estivesse de volta a casa.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

O DIA DA VERDADE



Hoje dia 14 de Novembro saí mais cedo para passar pelo laboratório e levantar o resultado das análises de rotina ao sangue. O hemograma tinha ficado pronto logo na semana passada, mas os resultados do despiste do HIV não estavam prontos. Mau sinal. Foi desculpa para se certificarem do resultado. Eu já estava preparado para o pior e assim foi. Quando a recepcionista olhou para mim e disse que se desejasse estava um médico disponível para falar comigo, já não valia a pena abrir o envelope.

Respirei fundo, entrei no carro e abri... Lá estava: HIV positivo. Não foi um terramoto, nem um raio ou uma avalanche que se abateu sobre mim, foi apenas uma nuvem negra que pousou sobre a minha cabeça.Exactamente às 18 horas o meu companheiro começou a telefonar. Ele sabia que o laboratório fechava àquela hora logo eu já sabia o resultado. Não consegui atender. Estava a conduzir. Tinha que parar primeiro. Pensar no que lhe ia dizer. Por fim atendi e à pergunta imediata respondi: infelizmente não há milagres! O resultado foi positivo. Fez-se silêncio...

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