ACREDITAR

Um diário de alguém que descobriu recentemente que é seropositivo, mas vai acreditar até ao fim que o milagre vai acontecer. Se pelo caminho ajudar a uma só pessoa a evitar ser contaminado ou a suportar melhor o seu convívio com o HIV-SIDA, já vale a pena escrever um pouco da minha história de vida, compartilhar pensamentos, alegrias e sentimentos. Só tenho a certeza de que a esperança é a última a morrer.

domingo, 31 de dezembro de 2006

PRONTO PARA ENFRENTAR O NOVO ANO

Chega ao fim um ano que não ficaria para a história não fosse ter suspeitado que nem tudo estava bem com a minha saúde quando em Novembro regressei de férias. O ano de 2006 seria apenas um ano de continuidade, sem história, nem grandes histórias para contar. Chego ao fim destes 365 dias tentando perceber o que vai mudar nos próximos 365. Para já as rotinas foram um pouco quebradas, não muito, que não há razões para tal. Talvez estejamos, e digo estejamos porque somos os dois que estamos a avaliar para onde vai a embarcação, a procurar um estilo de vida mais sereno e com novos propósitos. O ano que chega será enfrentado com outra sabedoria de forma a aproveitar melhor cada momento, cada iniciativa, cada dia.

Amanhã vamos jantar os dois num restaurante da cidade e convidamos alguns amigos e familiares para se juntarem a nós. Nada das loucuras dos anos anteriores em Albufeira e Portimão na rua até de madrugada cheios de álcool. Depois do jantar, a festa segue, pela noite fora, num bar com o resto da canzuada até que o corpo reclame pelos lençóis.

Tenho esperança que o ano novo não me traga más notícias e que seja possível continuar a vida quase normal como até aqui. Temos muitos projectos em mente. Será que é este ano que finalmente vamos a Paris e à Euro Disney com o puto? Vou-me esforçar um pouco mais por apressar a amortização da minha casa. Já falta pouco. No trabalho o ano é de continuidade, não devem acontecer alterações, mesmo com os novos accionistas. A família é sempre uma incógnita. Os anos não perdoam e a qualquer momento...

Vou-me esforçar para que um dia possa pronunciar a célebre frase de Pablo Neruda: «Confesso que vivi!». Hoje poderia afirmá-lo, na hora H espero sentir o mesmo: que vivi!

Um feliz ano para todos e obrigado por passarem por aqui.

Se estas páginas poderem ajudar a evitar uma infecção por HIV, que seja, já cumpriram o meu objectivo.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

COMO SABES?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

INTERVALO NAS FESTAS

O Natal passou quase como todos os anos. A família reuniu-se, jantou, conversou, trocou prendas. É um ritual nada desprezível. Os laços familiares ficam um pouco mais apertados sempre que os seus membros se reúnem e celebram aquilo que os une: os laços de sangue, o amor fraterno e uma história de vida entrelaçada por muitos acontecimentos. Vale a pena celebrar o Natal com todos os que o fazem voluntariamente não por obrigação.
O Natal já lá vai. Falemos de coisas com menos luzes e glamour. Voltei ao hospital e tive pelo menos uma boa notícia: o meu problema de pele não é Kaposi. Todos tinhamos dúvidas que fosse e agora parece confirmado, mas também não é uma infecção por fungos. É síflis secundária! Ups! Do mal ao menos sempre tem um tratamento menos complicado. Kaposi podia tornar-se um problema grave; a síflis também, mas agora que vai ser tratada deixará de ser com algumas injecções de penicilina.
Amanhã mesmo vou repetir as análises para ver como está a evolução da doença: carga viral e CD4 entre outras. Fiquei aliviado com este diagnóstico. O infecciologista nunca achou aceitável que o Sindroma de Kaposi se desenvolvesse tendo eu 497 de CD4 e tinha razão. Infelizmente foi quase necessário uma junta médica para chegarem a essa conclusão, pois ele esqueceu-se de fazer essa análise no lote de análises que fiz no final de Novembro.
A próxima consulta foi antecipada para 8 de Janeiro. Vamos ver como evoluem os níveis de carga viral e das defesas. A decisão sobre o início da terapêutica depende disso. O médico diz que tendo em conta a toxicidade não ganhamos nada em começar a ingerir comprimidos antes do momento certo. Nem todos os doentes respondem com a mesma tolerância aos medicamentos e como é impossível saber como vou reagir o melhor é não nos precipitarmos, com o nível actual de defesas ainda não surgem infecções oportunistas.
Ok. Vamos celebrar a passagem do ano e depois esperamos por boas notícias. Vai ser assim ao longo do ano que se apróxima - esperar por boas notícias!

domingo, 24 de dezembro de 2006

COMO SABES?

sábado, 23 de dezembro de 2006

NATAL: CELEBRAÇÃO DE VIDA?


Há acontecimentos que mudam a vida das pessoas. Mais do que isso, mudam a forma como se olha a vida, a sua existência terrena e os outros. Nesta época natalícia que se transformou, ironicamente, no período anual de maior hipocrisia e fingimento da humanidade é natural falar-se de amor, caridade, solidariedade. Isto, em traços largos quer dizer, nas nossas sociedades: presentes de natal, consumo, sorrisos e desejos de boas festas e distribuição de esmolas ou refeições aos mais necessitados.
Os meus natais não têm fugido muito a esta máquina infernal de materialismo que o período natalício exacerba até ao endividamento para dar presentes e vestir e comer de acordo com o estatuto social que temos ou que queremos que os outros pensem que temos.
Pouco a pouco os meus valores estão a alterar-se, lamento que seja o facto de ser seropositivo que tenha desencadeado essa alteração. Hoje as pessoas parecem-me mais importantes que antes. Procurar oferecer, apenas para parecer bem, deixou de fazer parte dos meus planos. Este ano não há presentes hipócritas: há presentes para quem se gosta, sem pensar em retribuições ou se é politicamente correcto ou não. Fazer o que me dá gozo e não o que parece bem é outra atitude que estou a desenvolver. Não me apetece gastar o meu tempo e dinheiro a cumprir obrigações desnecessárias. O meu tempo deve ser gasto de forma mais útil. A vida pode não vir a ser muito meiga comigo por isso tenho que pensar como uso o tempo livre. Já me bastam as obrigações profissionais. Valorizar as pequenas coisas, o momento, um sorriso, um olhar, tudo isso ganhou um novo estatuto nos últimos tempos. Olhar para os outros com olhos de ver, não com a indiferença dos interesses e das relações seria uma verdadeira mudança estrutural na forma como a sociedade encara o Natal. Mas parece que, para tal aconteça, é necessário que cada mortal sofra na sua vida pessoal um acontecimento de tal forma relevante capaz de mudar os seus valores e a forma de olhar o mundo.

Votos de um grande Natal. Esta época é, por excelência, de celebração da vida, não de ostentação.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

SINCEROS AGRADECIMENTOS

Estou muito agradecido a todos os que por aqui têm passado e deixado mensagens de incentivo. Era o que esperava e do que precisava. Os vossos comentários, opiniões e informações são-me preciosos. Obrigado a todos pelo vosso contributo.
Não tenho postado por falta de tempo e por não ter tido net nestes últimos dias. Voltarei ainda para vos desejar um feliz Natal e falar mais um pouco de mim. Até amanhã, provavelmente.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

20 ANOS DEPOIS

Desde os 19 anos que a SIDA se tornou um fantasma na minha vida. Decorria o ano de 1984 quando joguei os olhos sobre uma banca de jornais e li algo assim na capa do Expresso: Doença ainda desconhecida mata homossexuais. Era estudante e o meu orçamento não dava para comprar jornais, mas perante aquele título tirei os escudos necessários e devorei a reportagem sobre o tema. naquela altura ainda nem tinha tido a minha primeira relação homossexual. A minha cabeça estava muito confusa no que respeitava ao assunto. Continuei a procurar informação sobre a estranha doença desde então. Quando finalmente assumi a minha sexualidade o fantasma da SIDA esteve sempre presente e a forma de a evitar não me deixava indiferente.
Pouco tempo mais tarde ouvi dizer que o António Variações tinha falecido vítima da doença e um colega de escola que eu conhecia também. mais tarde foi a vez do meu dentista, um gay brasileiro que era namorado de um amigo meu. Mas só algum tempo mais tarde contactei directamente com a doença. Foi em Colónia, cidade onde vivia o meu companheiro da época e com quem vivi 5 anos. Ele era amigo de um cirurgião plástico que era seropositivo e o seu companheiro já estava gravemente doente. Estive em casa deles apenas uma vez, pois um deles morreu passado 6 meses e o outros talvez 2 anos mais tarde. O tratamento era, praticamente, inexistente e a esperança de vida era diminuta. A imagem daquele homem estremamente fraco nunca mais me saiu do pensamento. Quando penso em Sida é nele que penso. No ano seguinte fizemos a festa de passagem de ano em casa de um outro amigo que estava infectado e temia não resistir para ver outra celebração de ano novo. Assim foi. No ano seguinte já lá não estava. Aquela festa foi a festa da sua despedida. Nos anos seguintes quando voltavamos a Colónia sempre ficavamos a saber que mais alguém tinha sido levado pela maldita doença.
Essa relação acabou em 94 e a vida continuou por aqui ouvindo dizer que este ou aquele que conhecia era seropositivo. A certeza nunca se sabia. O medo da discriminação e o estigma da doença não deixa que muitos assumam que estão doentes. Este facto dá a sensação que a doença é um problema longínquo, com pouca expressão, que só existe lá longe, em África sim, lá morre muita gente com SIDA, entre os que conhecemos não!!!!! Mentira. A doença está escondida como um iceberg. Quando comecei a frequentar o serviço de infecciologia do hospital de Faro é que me apercebi quantos gays conhecidos por lá andam, ainda só a fazer acompanhamento, mas já são seropositivos.
Nunca fui um «santo». Sempre considerei que não devia ser descuidado nem facilitar, mas não podia abdicar da vida por medo de me infectar. O fantasma sempre me acompanhou. sempre tive consciência do risco que apesar de tudo existia. Quase sempre me assaltava a dúvida sobre a eficácia do preservativo, mas ao fim de 20 anos parecia ser bastante usar preservativo. E continuo a pensar que em condições normais sim. Julgo que não foi por aí que dei de caras com o virus. Provavelmente a contaminação veio através do sexo oral activo ou passivo, não sei! As gengivas «feridas» pela escova de dentes ou pelo fio dental ou uma fissura no pénis pode ser fatal. Um estudo recente diz que os homens circuncisados têm menores possibilidades de ser infectados.
Assumi o risco que pensava, ao fim destes anos todos, ser menor. Mas não era tão pequeno assim. Só eu sou responsável, mais ninguém. Convivo bem com isso. Não me tira o sono.

COMO SABES?

sábado, 16 de dezembro de 2006

O NATAL APROXIMA-SE NA BOA

Fiz o teste de rastreio do HIV há dez anos. Depois voltei a fazer há cinco. Depois voltei a pedi-lo ao meu médico de família, mas ele esqueceu-se e eu só me apercebi quando fui buscar os resultados. O meu companheiro fez há dois anos atrás e como deu negativo eu não voltei a insistir com o meu médico, até que perante as evidências pedi para voltar a fazê-lo em Novembro que como eu antecipei veio a revelar-se positivo. Sei que não há nada que diga que entre a infecção e a revelação dos primeiros sintomas tem que passar determinado tempo, e até pode ser que o único homem com quem tive relações sexuais não protegidas por um preservativo não seja seropositivo como os resultados das análises revelaram há dois anos, mas este avanço rápido da doença deixa-me perplexo. Normalmente ouvimos dizer que pode levar 5, 10, ou mesmo mais anos até que isso aconteça, mas eu que sempre considerei que tinha uma saúde de ferro, o tempo passou tão rápido! Bem, esta dúvida agora não interessa nada.
Fui ontem falar com o médico que me acompanha. Perante a evidência que o tratamento da dermatologista só teve resultado visível na boca, lá disse: vamos fazer uma biópsia para ter a certeza que é Kaposi ( ele não parece muito convencido, tal como eu) e se assim for vamos começar a terapia imediatamente.
Se esquecer as marcas do sindroma de Kaposi a minha saúde está boa, a disposição também.
As predas de natal já estão debaixo da árvore.Já planeamos o jantar de ano novo. Este ano vai ser um pouco diferente. Nada de noitadas em Albufeira ou na Rocha, com copos até ao nascer do dia como nos últimos anos. Vamos ficar num restaurante os quatro ou os cinco e depois vamos ficar com os amigos num bar da cidade, onde estarão os outros para animar a noite, até que sejam horas de dormir.
esta semana também vai acontecer um dia muito especial. Vamos os dois curti-lo como sempre fizemos. Ainda há compras para fazer, muito que conversar, o glamour do Natal para apreciar... Que eu saiba ninguém morreu!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

COMO SABES?

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

UM BOM DIA

Tive um dia muito bem disposto. O dia de trabalho foi interessante. Fomos fazer o resto das compras de Natal. Já só falta a prenda para aminha mãe. Tive a visita do meu amor platónico e da minha colega. Temos os dois a mesma paixão, mas não temos ciumes um do outro.
O jantar foi o mais agradável e descontraido desde que sabemos que sou seropositivo.
Não senti qualquer evolução para melhor ou para pior no meu estado de saúde. Vou seguir o conselho do amigo que deixou o comentário no post anterior, e que é bastante experiente nesta coisa de ser seropositivo e na Sexta-feira vou convencer o meu médico que devo começar a terapia. Não vou antes porque não quero faltar ao trabalho. Depois é só curtir os efeitos especiais dos retro-virais.
Tchau! Façam o favor de ser felizes, que eu também...

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

FIM-DE-SEMANA A TRABALHAR

É Inverno, ainda não no calendário, mas no Algarve é como se já fosse por isso hoje estive a trabalhar sózinho. Os meus colegas estão de folga ou a compensar horas trabalhadas no Verão. Não há muito que fazer, mas eu sempre invento actividades para me manter ocupado.
A solidão nunca foi uma dificuldade para mim. Aprendi a viver com ela ainda criança e convivo bem comigo horas a fio.
Continuo a fazer o tratamento para as micoses na esperança que haja evolução. Nada acontece nas mãos e nos pés, apenas no canto da boca os medicamentos foram eficazes. No entanto na mucosa sinto algumas aftas. tenho a sensação de que a qualquer momento vou ter uma erupção cutânea na boca impossível de dominar.Não sei se volte ao médico ou se aguarde alguma evolução. Queria passar o Natal sem iniciar o tratamento retroviral. Acho que vou tentar chegar pelo menos a Janeiro. Receio que os efeitos secundários dos medicamentos me estraguem completamente as festa assim como aos meus familiares e amigos, para não falar do meu companheiro. Ele ainda não teve coragem de ir fazer o rastreio. Já lhe disse n vezes que devia ir, talvez não esteja infectado, o que seria um verdadeiro milagre. Ficava muito feliz se assim fosse. Ele diz que só vai quando a minha doença mostrar alguma evolução. No fundo ela já mostra, mas ele agarra-se a tudo para evitar o veredito definitivo.
Quando ocupado passo horas sem me lembrar que sou seropositivo; depois quando dou outra vez pelo facto e quase não acredito.

domingo, 10 de dezembro de 2006

COMO SABES?

DEVE SER KAPOSI

Fiz uma investigação na Net sobre Kaposi e fiquei convencido que as manchas que tenho nas mãos e nos pés são isso mesmo. Os cremes que a dermatologista receitou não provocaram qualquer melhoria. Segunda ou Terça-feira vou falar com o Dr. José Ferreira, o meu infecciologista.
Fui à consulta de medicina no trabalho. Era uma médica estrangeira. Estava receoso que ela se apercebesse das manchas nas mãos, mas não deu por isso.
Apartir de agora começo a recear que as pessoas que mais directamente contactam comigo façam perguntas inconvenientes. Estou preparado para tudo menos para explicar o que se está a passar. Não estou preparado para ver a minha imagem desvanecer-se na mente daqueles que sempre olharam para mim como um exemplo, como uma pessoa consciente, como alguém bem sucedido apesar de ser homossexual. Vai ser difícil, mais difícil que o sofrimento físico porque poderei vir a passar.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

NO DERMATOLOGISTA

Na quarta-feira consegui a consulta no dermatologista. A médica olhou, olhou e indecisa disse que iamos fazer um tratamento como se aquilo fosse um fungo, mas não excluia a hipótese de ser Kaposi! Na minha opinião não é, no entanto a dificuldade em domar este fungo deixa-me perplexo. Flotiran mais Dermofix com um comprimido de Lamisil à noite parece estar a resultar no canto da boca. Nas mãos e nos pés não senti ainda uma regressão das manchas .

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

O QUE É ISTO?



segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

DENTRO DO ESPERADO

Ok, cá estou eu com os resultados das análises na mão. Olhando bem para eles são mais animadores do que esperava, mas não tanto como desejava. Vamos primeiro às boas notícias: estava receoso que o meu fígado não estivesse muito saudável para suportar a terapia que mais cedo ou mais tarde irei necessitar. A hepatite B que tive em tempos está curada e as suas funções estão normais. Óptimo! A radiografia ao torax não mostra qualquer tipo de lesão. Os dados gerais da análise sanguinea estão bons.
Vamos ao que interessa. Os níveis de células CD4 é de 497 por mm3. O médico diz que é razoável podia ser melhor, mas não é demasiado baixo. O normal seria entre 575 e 1734. As CD8 estão normais: 1012 por mm3. O normal varia entre 327 e 1148!? Quanto à carga viral os números podiam ser melhores. Foi detectada uma carga viral de 53.900. Se pensarmos que os médicos aconselham o início do tratamento com retro-virais apartir dos 55.000, quer dizer que não estamos nada longe do limite crítico.

Ainda não me marcaram a consulta de dermatologia, mas o médico disse para eu aparecer amanhã nas urgências que ele vai conseguir que um dermatologista me consulte. Em Portugal é assim, quando não há nada a fazer entra-se pela porta do cavalo. O portugueses já estão habituados ao sistema. É assim que funciona.

Algo animado com estas novidades (próximas análises e consulta em 5 de Fevereiro) fui com o meu namorado fazer compras de Natal para a família e amigos e ele fez-me comprar o «vestido» para a passagem do ano. Não pensava gastar um euro comigo e gastei um dinheirão. Acabamos num restaurante de Faro a jantar e a ver o Sporting perder 3-1 com os russos. Voltamos a casa depois de passarmos por um lugar proibido, só para visitar as amigas.

O DIAGNÓSTICO COMPLETO

Amanhã vou saber realmente qual é o meu estado de saúde. Para dizer a verdade não tenho grandes espectativas, nem estou demasiado ansioso. Creio que os resultados vão mostrar uma carga viral elevada e um nível baixo de células CD4. Certamente, irei começar o tratamento com retro-virais dentro de pouco tempo.Sinto-me bem. Não tenho febre, nem diarreias; fisicamente estou bem. Apenas a infecção por candidíase na boca que não cura definitivamente e os fungos nas mãos e nos pés que estão muito melhores, mas teimam em não curar. São estes dois factos que me deixam pessimista quanto ao que se segue.

sábado, 2 de dezembro de 2006

UM NOVO DIA A DIA

Entre o dia 14 de Novembro, data em que soube ser seropositivo e o dia de hoje o meu dia a dia já se alterou consideravelmente. Até as espectativas de vida são agora outras. Para já não pretendo que ninguém conheça a novidade. Só o meu companheiro o sabe. Tenho evitado que os meus colegas suspeitem que algo não está bem comigo. Tenho ido fazer as análises e às consultas alterando os dias de folga ou com a desculpa que tenho que acompanhar a minha mãe para exames médicos. Ninguém suspeita porque já acontecia antes, visto a minha progenitora sofrer de coração e ter de fazer exames regulares ao sangue entre outros. Enquanto me for possível ninguém saberá. Não quero sofrer qualquer tipo de discriminação, nem ter problemas no trabalho enquanto não for necessário.
A minha irmã tem a ambição de criar uma cresce e quer-me como seu sócio. Dentro de pouco tempo será necessário ter o dinheiro disponível para comprar o terreno, logo que o projecto seja aprovado. Ela precisa da minha parte e eu como lhe vou dizer que talvez não seja o sócio ideal para o negócio?
As rotinas mudaram. Agora faço questão de me alimentar sempre convenientemente. Depois de saber que estou infectado só fiz sexo uma vez para provar a mim mesmo que era capaz, mas na verdade não me apetece apesar de sentir falta. Não sei explicar bem como é : apetece-me na teoria, mas não me sinto bem a fazê-lo na prática. Não voltamos a fazer as terriveis noitadas de Sevilha, ficamos por Tavira. O que me assusta não é a espectativa da morte, é antes o caminho até lá, seja ele curto ou comprido. Nada será como antes. Estou a dobrar uma esquina que me pode levar rapidamente para o fim ou ser uma espécie de caminhada no deserto, com miragens pelo meio, mas sem um ponto de chegada que não seja a morte. Posso ser optimista e acreditar que se possa desenvolver uma terapia que devolva o virus ao lugar de onde veio, pode ser que o milagre ocorra mais ano menos ano se lá conseguir chegar.

  • AIDS PORTUGAL
  • LIGA PORTUGUESA CONTRA A SIDA
  • COORDENAÇÃO NACIONAL PARA A INFECÇÃO HIV/SIDA
  • AIDS PORTUGAL
  • ONU SIDA
  • HIV MEDICINE INDICE
  • DIARIO HIV VIDA
  • O BLOG DO GAT
  • ACREDITAR